Em fins do mês de setembro de
2013, esteve em Porto
Ferreira , na fazenda Rio Corrente, o artista plástico Rodrigo
Godá. Em uma entrevista agradável, Godá partilhou características da sua vida,
as quais permitem compreender melhor o seu trabalho.
Nascido no ano de 1980,
em Goiânia (GO), Godá morava em um bairro muito simples de casas humildes
suburbanas. A liberdade presente na infância vitaminou a criatividade do
menino: pela manhã, desvendava com os colegas o desconhecido das matas; à
tarde, os meninos interagiam com as peças sucateadas de um antigo “ferro-velho”,
construindo histórias, brincadeiras e aventuras.
Entretanto, a infância ainda
sobrevive, num processo semelhante aquela estória de que o mundo da fantasia
somente existirá enquanto as crianças nele acreditarem. Godá ressuscita a
infância constantemente através de suas obras de arte. Aprendeu a valorizar e a
resgatar os frutos da sua vivência, pois, declarou que a essência do seu
trabalho é a memória. O cheiro exalado pela fábrica de doces do bairro inundava
as casas e atraía as crianças para o local. Cada sala produzia um doce
diferente; cada sala alimenta uma lembrança do passado.
Os trabalhos contam histórias,
onde o expectador necessita interagir para compreendê-las. Máquinas imaginárias, com engrenagens humanas e
vegetais caminham pelo papel, desenvolvendo atividades e produzindo coisas,
fornecendo uma nova visão cosmológica ou retratando o mundo das ideias.
Godá reconheceu que nunca estudou
arte, nunca leu um livro sequer sobre o assunto. É um autodidata. Parece
realmente com um sujeito livre, que faz questão de manter sua natureza, sem
preconceitos e padrões.
Curiosamente, fica a impressão de que as mentalizações
materializadas nos seus trabalhos resultaram em uma modificação do real, tendo
em vista que o bairro onde vive e produz a suas obras passou a concentrar
inúmeros “ferros-velhos”, fornecedores de matéria-prima para as esculturas que
realiza. Talvez, nossa cabeça se pareça realmente com um “ferro-velho”, onde as
informações que ali estão são rearranjadas e reagrupadas.
Com 16 anos, Godá passou a
frequentar o ateliê de artes plásticas da Escola Técnica Federal de Goiânia. No
ano seguinte, ganhou um prêmio neste mesmo ateliê e, com 18 anos, foi premiado
na Bienal de Arte Naif de Piracicaba-SP. Posteriormente, o goiano acumulou
inúmeras premiações.
Todavia, o prêmio mais importante
da sua vida, foi recebido no 11º Salã
o do Museu de Arte Moderna da Bahia, que
contava com Gilberto Chateaubriand no júri. Godá relembrou que, certo dia, o
Gilberto Chateaubriand, apareceu na porta do seu ateliê em Goiânia, com um
charuto aceso na boca. Andou pela casa inteira querendo saber de tudo, e no
final, comprou o ateliê inteiro. Modestamente, Gilberto Chateaubriand, que
também participou da entrevista, esclareceu que Godá tem uma linguagem própria
que nenhum outro artista contemporâneo possui.
A partir daquele momento, Godá
adentrou com o “pé direito” ao mercado das artes brasileiras, figurando no
livro “Coleção Gilberto Chateaubriand: Um século de Arte Brasileira” (2006). As
suas obras podem ser encontradas em inúmeros acervos públicos, entre eles no
Museu de Arte da Pampulha (BH), na Galeria Virtual Rumos Visuais
(Itaucultural-SP), no Museu de Arte Contemporânea, Centro Cultural Oscar
Niemeyer (Goiânia-GO), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre muitos
outros.
(Renan Arnoni, coordenador do
Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”)
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