Antonio Paim Vieira
Um provérbio chinês diz que “os anos ensinam coisas que os
dias desconhecem”. Quantos de nós, ferreirenses, cruzaram a Praça “Paschoal
Salzano”, na Vila Santa Maria, sem perceber, naquele lugar, uma preciosidade da
arte brasileira: um painel de azulejos pintado por Antonio Paim Vieira. Mas
quem foi ele e qual a sua relevância para o cenário artístico nacional?
Antonio Paim Vieira (1895-1988),
paulistano, desenvolveu um amplo e representativo trabalho artístico,
abrangendo os campos da pintura, da cerâmica, da decoração e da docência - como
professor de História da Arte e de Decoração.
Embora não fosse um modernista, participou
da Semana de Arte Moderna de 1922, com uma exposição por ele denominada “umas
formas extravagantes traçadas no papel”, juntamente com os renomados Mario de
Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Victor Brcheret, Anita Malfatti,
Di Cavalcanti, Heitor Villa-Lobos, Yan de Almeida Prado, que providenciou, às
pressas, as molduras necessárias” para seus desenhos (informações coletadas em Yone Soares de Lima,
1988). De acordo com Débora Gigli Buonano, ele acreditava que as transformações
da modernidade no campo das artes não deveriam ocorrer sob os moldes de valores
europeus, mas “com um estilo moderno com características e elementos
nacionalistas”.
Pietro Maria Bardi, oraganizador
do MASP com Assis Chateaubriand, afirmou que as preferências de Paim “eram
voltadas para o movimento da art-nouveau, vivo nos fins do século até o
explodir da Primeira Guerra”. Ilustrou a maioria das revistas dos anos 20 e 30:
“Fon!Fon!”, “A Careta”, “Para Todos”, “Ilustração Brasileira”, os periódicos: “A
Cigarra”, “A Vida Moderna”, ‘A Gazeta”, “Papel E Tinta”, “Ariel”, “Novíssima”,
bem como os livros: “Ás máscaras” (1920), de Menotti del Picchia, “Pathé Baby”
(1926), de Alcântara Machado, e “Urupês” (1944), de Monteiro Lobato, no qual a
personagem Jeca Tatu foi retratado.
Segundo Buonano, com temas
nacionalistas como animais plantas, índios e o carnaval, Paim demonstrou seu interesse
em temáticas nacionalistas, realizando ampla pesquisa dos nossos tipos
folclóricos, pintando-os em cerâmicas, que vieram a publico através de duas
mostras (1928, com 216 pratos, e em 1938). Para Ruth Sprung Tarassantchi, ele
procurava “manter vivo o espírito de brasilidade em sua obra”. Na reportagem de
10/12/1988 do jornal O Estado de S. Paulo, ela citou alguns comentários
efetuados por Mario de Andrade, nos quais Paim não queria ser modernista, e nem
passadista, adquirindo importância pela sua pretensão de tornar brasileira a
cerâmica, constituindo-se um pioneiro. Empregava o estilo barroco que
abrasileirava, usando formas opulentas e cores mais intensas que as européias,
porque, como ele próprio dizia, “estamos em um país tropical”.
Foi o primeiro a pintar virgens
com feições caboclas, tendo ornamentado, com ricos painéis em azulejo, a “Igreja
de Nossa Senhora do Brasil”, em
São Paulo e a “Capela Nossa Senhora dos Prazeres”, em Bertioga. Dentro
deste tema, há uma coleção de 27 madonas, exposta em 1947, que se encontra no
acervo da Unicamp.
O
artista plástico em
Porto Ferreira
Por intermédio da família
Salzano, Paim foi convidado, em 1952,
a retratar um mural temático para compor artisticamente
a Praça Paschoal Salzano. Em 1953, por ocasião da inauguração da citada praça,
o colunista João P. Ferreira, um dos heterônimos do professor Flávio da Silva
Oliveira, no artigo “Uma Dívida Resgatada”, pioneiramente, descreveu o contexto
do painel de azulejos: “lado a lado, Moisés e Paschoal Salzano – um, na
passagem bíblica de fazer jorrar água do Monte Horeb e, outro, colocando uma
torneira – em uma comparação simples e entre aqueles que ofertaram o precioso
liquido aos seus povos”.
Contudo, a obra do artista plástico
em Porto Ferreira
não parou por aí. No jornal “O Ferreirense, de 27/01/1952”, encontra-se esta
nota, reproduzida na íntegra:
“Esteve
em nossa cidade, desenhando a nossa velha igreja, o prof. Antonio Pain Vieira,
ilustre professor de desenho da Escola Mackensie da Capital S.S. aqui veio a
pedido do nosso Dr. Erlindo Salzano, Vice-Governador do Estado e o desenho da
nossa igreja, já se acha pronto e deverá ser colocado em um quadro e ficará
exposto na Prefeitura Municipal. Nossos aplausos ao Dr. Erlindo por tão feliz
idéia e nossos cumprimentos ao prof. Antonio Pain.”
Vale salientar que o antigo templo de São
Sebastião foi demolido naquele mesmo ano, sendo que, este quadro encontra-se
exposto no acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva
Oliveira”, constituindo-se uma das últimas lembranças da nossa velha igreja.
Por último, não podemos deixar de
citar o brasão de Porto Ferreira, também obra de Paim, instituído pelo decreto
municipal nº388, de 22 de Julho de 1961, cujo original se encontra na sala do
presidente no prédio da câmara de vereadores.
Antonio Paim Vieira considerava o
desenho como a “disciplina do espírito”. Exatos 60 anos depois da sua obra em Porto Ferreira ,
parte deste espírito pôde ser resgatada, mediante esta singela homenagem,
dignamente merecida.
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