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A POLICULTURA NA FAZENDA RIO CORRENTE EM PORTO FERREIRA

Assis Chateaubriand e Edmundo Monteiro no algodoal da Rio Corrente

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CULTIVO NAS PROPRIEDADES RURAIS DO BRASIL

            A policultura é o cultivo de várias espécies agrícolas ou animais em uma mesma propriedade. Ao retratar a história brasileira geralmente é trabalhado o contexto histórico do principal produto cultivado nas fazendas, como o café e a cana-de-açúcar e ficam esquecidas as outras culturas da propriedade rural (milho, arroz, feijão), necessários para a subsistência dos patrões e trabalhadores e abastecimento do mercado interno.
            Pesquisas apontam que o “plantation” (produção de monocultura em latifúndios) no Brasil colônia também possuía espaços reservados a “brecha camponesa”, espaços reservados na fazenda para que o escravo cultivasse alimentos para consumo próprio, podendo vender o excedente. Assim, havia uma moeda de troca, espécie de benesse fornecida pelos senhores, a fim de evitar fugas. Vale salientar que nem toda propriedade agrícola brasileira estava
Submetida ao sistema de “plantation”.
            No “sistema de parceria” adotado no ciclo do café durante a Primeira República no Brasil (1889-1930), os colonos recebiam a obrigação de cultivar, colher e beneficiar uma porção de cafeeiros e podiam plantar em certos lugares pré-determinados pelo fazendeiro certos mantimentos necessários ao sustento da sua família.
            Com a crise estabelecida sobre os negócios do café na década de 20, o café passou a ser substituído no Estado de São Paulo por outros produtos como o milho, o arroz e o algodão nas grandes propriedades agrícolas e, também, nas pequenas propriedades após o processo de fragmentação e retalhamento na década de 30 incentivado pelo governo brasileiro.


            Nas décadas de 50 e 60, a Fazenda Rio Corrente em Porto Ferreira possuía como principais produtos cultivados o café e o algodão. Em reportagem de 10 de maio de 1958, na Revista “O Cruzeiro”, Chateaubriand afirma ter iniciado um processo de substituição de 50 mil pés de café de uma lavoura antiga, que não era viável economicamente. Naquele ano, três talhões se encontravam prontos, com 2, 3 e 4 anos, constituindo 5 mil pés de café “mundo novo” e mais 15 mil mudas estavam no viveiro. O conjunto era irrigado com o sistema “Ortenblad[1]. Havia, também, 40 alqueires de algodão, 20 tratadas com inseticidas sistêmicos (as chamadas “sementes pretas”) e 20 com o sistema comum. As sementes pretas foram um sucesso, com um rendimento médio de 400 arrobas por alqueire.
            Como prática da policultura, além destes 2 produtos principais, foram cultivados 25 alqueires de arroz, com mais de 100 sacas por alqueire, e 20 alqueires de milho. Segundo a revista “O Cruzeiro”, em uma do milho “Agroceres” colhida ao acaso havia 16 linhas, com 48 grãos cada, num total de 736 grãos. A espiga normal de outras culturas possui em média 300 grãos. Porém, estava plantado conjuntamente o milho híbrido, do qual não há informações estatísticas na reportagem. A fazenda também criava 160 cabeças de gado misto e, no setor avícola, ocupavam a granja 2000 aves da raça “leghorn” e “newhampshire”.
            Baseado neste caso específico é nítido perceber a transformação das antigas fazendas cafeeiras do Estado de São Paulo. Embora o café não fosse o único produto da terra no início do século XX, passou a integrar o sistema de policultura associada à fertilização do solo e ao controle das pragas por agrotóxicos, principalmente, em razão da demanda interna por alimentos nas cidades. Hoje em dia, um mar de cana-de-açúcar abunda nas fazendas do interior de São Paulo, rivalizando com o sistema da policultura, sendo raras as propriedades que não adotaram o canavial, geralmente terceirizado para as usinas produtoras de açúcar e álcool.





[1] O Dr. Alberto Ortenblad desenvolveu um sistema revolucionário de irrigação por aspersão na década de 40, na fazenda da família “Água Milagrosa”, em Tabapuã, tornando-se uma referência nacional na preservação de recursos hídricos. 

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