Pular para o conteúdo principal
A ÂNCORA DA NAVEGAÇÃO FLUVIAL
Por Thiago Prado, 12 anos, aluno da EMEF Mário Borelli Thomaz.
Figura 1: Thiago Prado e a Âncora na área externa do Museu Histórico e Pedagógico "Prof. Flávio da Silva Oliveira".
A âncora que está no museu de Porto Ferreira é o principal símbolo da cidade,  representado na bandeira e no brasão municipal. Ela é proveniente do período da navegação desenvolvida pela Companhia Paulista de Vias Férreas e Fluviais no Rio Mogi Guaçú, de 1884 até 1903.
Pescadores encontraram a âncora dentro do rio, a cerca de 1 quilômetro da “Ilha dos Patos”, no dia 22 de novembro de 1979, quando, ao puxarem a rede de pesca, perceberam um peso acima do normal. Então, resolveram entrar na água com a intenção de averiguar o que havia enroscado na rede. Para a surpresa deles, descobriram uma âncora do tempo da navegação fluvial.
A Navegação Fluvial
            A navegação fluvial começou devido à proibição de continuar a construção dos trilhos da estrada de ferro da Cia. Paulista, que iria até a região cafeeira de Ribeirão Preto, Franca e divisas com Minas Gerais, ricas em terra roxa. A Companhia Paulista de Vias Férreas, então, precisava de algum meio de transporte que levasse a produção cafeeira aos trens, para que fossem transportadas as mercadorias até o mercado consumidor americano e europeu, exportadas através do Porto de Santos, e, também, para o transporte do sal utilizado na pecuária.
Então, foi pedida uma autorização ao governo provincial para a implantação da navegação fluvial no Rio Mogi Guaçu até o Rio Pardo, percorrendo, assim, a extensão de 205 quilômetros, entre Porto Ferreira e Pontal.
Figura 2: Vapor no Cais do Porto. Porto Ferreira, 1897. Acervo do Museu Histórico e Pedagógico "Prof. Flávio da Silva Oliveira".
A frota naval da Cia. Paulista estava constituída por 2 balsas de aço, 36 lanchas e 7  vapores. Os vapores rebocavam as lanchas carregadas pelo rio, no total de 3 lanchas por viagens. A velocidade dos vapores, na subida, era de 9,5 km por hora  e de 14,5 km por hora, na descida. Na navegação fluvial, utilizavam-se correntes de ferro que ficavam flutuando no rio, com a função dar tração para ajudar os vapores na subida.
Figura 3: Correntes da navegação fluvial no Rio Mogi-Guaçu. 2013. Porto Ferreira. Acervo do Museu Histórico e Pedagógico "Prof. Flávio da Silva Oliveira". 

A navegação foi oficialmente encerrada em 1903, devido à nova ligação ferroviária da Cia. Paulista em outra localidade. Nesta data, cerca de 200 famílias abandonaram Porto Ferreira e a oficina de reparação das embarcações e dos vapores foi fechada.



Figura 4: Mapa da rede ferroviária e de navegação da Cia. Paulista de Vias Férreas e Fluviais. 1898. 

Campanha para a compra da âncora
Diante das solicitações do vereador Valdir Bosso e de Flávio da Silva Oliveira - atual patrono do museu - para que a âncora fosse doada ao Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Lourenço Filho”, os pescadores negaram os pedidos e exigiram a quantia de 40 mil cruzeiros pela venda do objeto histórico.
Assim, iniciou-se uma campanha de arrecadação de fundos para a compra da âncora, com o auxílio dos dirigentes dos órgãos locais de divulgação (Rádio Primavera, jornal “O Ferreirense” e o “Jornal do Porto”), além do “Clube do Chorão”. Então, foram feitas 5 listas destinadas a angariar fundos. As doações podiam ter o valor máximo de 200 cruzeiros, pois o mérito seria igual tanto para quem doou centavos, quanto para quem doou o valor máximo. Entretanto, como forma de burlar a regra instituída, os cidadãos que desejassem doar quantia superior aos 200 cruzeiros, podiam registrá-las em nome de terceiros e familiares.
Mesmo assim, chegando o fim da campanha, no dia 31 de março de 1980 (de acordo com o manuscrito sobre a âncora, de 09 de abril de 1980, arquivado no museu), só foi possível arrecadar 26.700 cruzeiros. Então, após as negociações, os pescadores (José Costa, José Luís Jardin, Orlando da Silva e José Luís Palombo) aceitaram a quantia e a âncora foi destinada ao museu.
A âncora pesa 77,5 Kg e mede 1,26 metros de altura, seus braços, de ponta a ponta, possuem 89 cm, e seu suporte tem 1,25 metros. Ela foi fabricada na Inglaterra, provavelmente, no ano de 1882 e contém inscrições não reconhecidas.

Fontes Bibliográficas:
DOMINGUES NETO, Hilário. Navegando o Mogi-Guaçu: a agroexportação cafeeira no Oeste Paulista e a formação de um mercado interno regional (1883-1903). São Paulo: UNESP, 2009. 188p.

Jornal “O Ferreirense” das datas de 05/01/1980, p.1;19/01/1980, p.8; e 12/04/1980, p.1. Acervo do Museu Histórico e Pedagógico "Prof. Flávio da Silva Oliveira".                          
OLIVEIRA, Flávio da Silva. Manuscrito sobre a  âncora. Porto Ferreira. Acervo do Museu Histórico e Pedagógico “Prof. Flávio da Silva Oliveira”.
OLIVEIRA, Flávio da S. Histórias e Estórias de Porto Ferreira. Porto Ferreira: Editora Gráfica São Paulo. 2005.
PERINELLI NETO, Humberto. Era a Paulista uma ferrovia “cata-café”? apontamentos sobre o comércio de gado e as ferrovias em São Paulo (1869/1909) Artigo publicado na edição nº 32 de agosto de 2008.

Imagens
Mapa da rede ferroviária e de navegação da Cia. Paulista de Vias Férreas e Fluviais. 1898. Disponível em: <http://vfco.brazilia.jor.br/ferrovias/mapas/1898cpef.shtml>. Consultado em 20/12/2013. 
CONTRIBUINTES DA CAMPANHA
1-Alice Zini Lopes
2-Antonio Marco Louzada
3-Antonio Fernando Gentil
4-Antonio Palhares Pinto
5-Alfredo M. Ferracin
6-Anônimo
7-Antonio Carlos Campos Leite
8-Antonio Manuel Martini Filho
9-Adilson Grigoleto
10-Anônimo
11-Aparecido Camilo Perondi
12-André Luis Belline
13-Ana Lúcia Malhado de Oliveira
14-Austen da Silva Oliveira
15-Alipio Carlos Rosa
16-Augusto Tardeli
17-Antonio Parra
18-Antonio Aparecido Malaman
19-Armando Amaral Filho
20-Albino Bragante
21-Alvaro Americo da Silva
22-Antônio Mendonça
23-Avelino Marques
24-Álvaro Pollato
25-Arnaldo Marlassi
26-Antônio Rodrigues de Mattos
27-Antônio Carlos Rodrigues de Mattos
28-Ademir da Silva Borges
29-Alessandro Fernando Borges
30-Ana Falcão Zaniboni
31-Antonia Zaniboni Zufo
32-Antônio (Nêgo) Ângelo Ramos
33-Alamir Ramos
34-Arnaldo Marbassi
35-Bazar Sírio
36-Barcelona Ramos Raimundo
37-Cláudio Mariano
38-Clarindo Moreto
39-Casemiro José
40-Cezira Carolina Villa Serra
41-Carlos Serra
42-Cristina Pereira da Silva
43-Claudia Rodrigues de Matos
44-Claudionor da Silva Borges
45-Carmelinda Bento Borges
46-Carlos Alberto Borges
47-Cristiane Borges
48-Marlene Fares Ramos
49-Dijalma Onofre Prado
50-Dirceu Fenilli
51-Dairci Mesquita
52-Dionísio Fenilli
53-Darnício Correa
54-Dorival Braga
55-Dorivaldo Américo da Silva
56-Deise Vanin Zaniboni
57-Denise Netto Zaniboni
58-Daniela Emile Zaniboni
59-Dorival Raimundo
60-Dalva Dozzi Tezza
61-Édson da Costa Valente
62-Erdina Leal Vanin
63-Erlindo Justino Fortes Salzano
64-Édson Wurglistisch
65-Elza de Araújo Denuncci
66-Eliana Borges
67-Wladimir Luís Raimundo
68-Eduardo Dozzi Tezza
69-Francisco Benassato
70-Fabiana Colussi Oyama
71-Francisco Malaman
72-Fabíola Teixeira Salzano
73-Fábio Machado de Oliveira
74-Flávio Daneze
75-Fátima Aparecida Arnoni
76-Ferdinando Melchioreto
77-Francisco da Rocha Cupido
78-Flávio da Silva Oliveira
79-Fábio Zaniboni Zufo
 80-Geraldo D. de Vicêncio
81-Gilva Dozzi Tezza
82-Horácio e Trevisan LTDA
83-Hélio Pelissari
84-Helena Maria L. Borges
85-Ilma Ferreira Saraiva
86-Irpo Perondi
87-Ivan Sílvio Leite Ribeiro
88-Iérsio Perondi
89-Iolanda Torres Borges
90-João Batista Zuffo
91-José Zuffo
92-Jacinta Tavares da Silva
93-João Flávio Colussi Oyama
94-Juracy Costa Valente
95-José Pinto Bernardo
96-Jose Hélio Pelissari
97-Juliana Teixeira Salzano
98-José Carlos Batista
99-José Antônio Galan
100-João Roberto Bellini
101-João Araújo Filho
102-João Araújo Neto
103-José Carlos Bellini
104-João Teixeira
105-Jair Aparecido Grigoleto
106-José Massoneto
107-José Luís da Silva
108-João Salgueiro
109-José Tófoli
110-João Gonçalves
111-José Ferreira Tavares da Silva
112-Joaquim Borges Neto
113-Josefina Inês Araújo Borges
114-José da Silva Borges
115-Juliana Borges
116-Jose Gilberto Borges
117-José (Zinho) Ramos Filho
118-Judith Luiza Zaniboni Ramos
119-José Geraldo Zaniboni Ramos
120-Juliana Zaniboni Ramos
121-Joseane Zaniboni Ramos
122-José Zaniboni
123-José Antônio Zaniboni
124-José Guilherme Dozzi Tezza
125-Junior Dozzi Tezza
126-Leonildo Braga
127-Lia Colussi
128-Luciana Colussi Oyama
129-Lair Perondi
130-Larissa Teixeira Salzano
131-Leonor Fabiano Bacarim
132-Luzia de Brito Borges
133-Leonice Aparecida Borges
134-Luís Zaniboni
135-Maria da Penha Gentil Salzano
136-Maria Aparecida da Costa Valente
137-Mário dos Santos Leme
138-Maria Julia Mondin
139-Mena Fratini
140-Maura Bezerra
141-Meninas da Maternal
142-Maria Célia Maciel Araújo
143-Madeleine da Silva Prado
144-Mafalda Alzira Bellini
145-Maria Aparecida da Silva Oliveira
146-Maria José Corteze
147-Mauro Rodrigues de Matos
148-Marissol Ramos
149-Maria Salete Ramos de Rosa
150-Marcos Venício Ramos de Rosa
151-Nadir Mariano
152-Norma Colussi Oyama
153-Nilson Malaman
154-Neif João
155-Nina Fares Ramos
156-“Nenê”  Pedro Fares Ramos
157-“Ninão” João Batista Zuffo
158-Orlando Pires Barboza
159-Orestes Sanches
160-Orlando Zornof
161-Orestes Rocha
162-Oswaldo Mariano
163-Otilo Polatto
164-Orlando Rozante
165-Padaria São Carlos
166-Pedro Tiziani
167-Paulo Oliva
168-Paulo Araújo
169-Paulo Roberto Borges
170-Renato Arêdes Teixeira
171-Robélia Fenilli Fraianeli
172-Rita de Cássia Arnoni
173-Regina Aparecida Serra
174-Rubens Parada
175-Rádio Primavera
176-Rodrigo Paulo Borges
177-Ricardo Roberto Borges
178-Rui Fares Ramos
179-Rejane Raimundo
180-Ruth Ramos Dozzi Tezza
181-Rui Ramos
182-Raquel Ramos
183-Rosa Encarnacion de Rosa
184-Sílvia Marbassi
185-Sinésio Dias da Silva
186-Syrio Ignatios
187-Silvana Borelli
188-Sebastião Guilherme Barboza Fonseca
189-Sérgio Pereira da Silva
190-Sebastião Bacarin
191-Severo Badolato
192-Sirlene Fares Ramos
 193-Toshio Oyama
194-Tereza Cristina Peres Salzano
195-Vitorino Ferreira da Silva
196-Valdemar Traldi
197-Vera Rodrigues de Mattos
198-Valmir Borges
199-Wladimir Salzano
200-Walter de Santis
201-Willian Luís Aires
202-Waldemar Simões
 Colaboraram, ao todo, 203 pessoas, com o valor médio de Cr$131,52 cada.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Obras de Antonio Paim Vieira pertencem ao patrimônio histórico de Porto Ferreira

Antonio Paim Vieira Um provérbio chinês diz que “os anos ensinam coisas que os dias desconhecem”. Quantos de nós, ferreirenses, cruzaram a Praça “Paschoal Salzano”, na Vila Santa Maria, sem perceber, naquele lugar, uma preciosidade da arte brasileira: um painel de azulejos pintado por Antonio Paim Vieira. Mas quem foi ele e qual a sua relevância para o cenário artístico nacional? Antonio Paim Vieira (1895-1988), paulistano, desenvolveu um amplo e representativo trabalho artístico, abrangendo os campos da pintura, da cerâmica, da decoração e da docência - como professor de História da Arte e de Decoração. Embora não fosse um modernista, participou da Semana de Arte Moderna de 1922, com uma exposição por ele denominada “umas formas extravagantes traçadas no papel”, juntamente com os renomados Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Victor Brcheret, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Heitor Villa-Lobos, Yan de Almeida Prado, que providenciou, às pressas, as molduras ...

O FANTÁSTICO MUNDO DE RODRIGO GODÁ

Em fins do mês de setembro de 2013, esteve em Porto Ferreira , na fazenda Rio Corrente, o artista plástico Rodrigo Godá. Em uma entrevista agradável, Godá partilhou características da sua vida, as quais permitem compreender melhor o seu trabalho.    Nascido no ano de 1980, em Goiânia (GO), Godá morava em um bairro muito simples de casas humildes suburbanas. A liberdade presente na infância vitaminou a criatividade do menino: pela manhã, desvendava com os colegas o desconhecido das matas; à tarde, os meninos interagiam com as peças sucateadas de um antigo “ferro-velho”, construindo histórias, brincadeiras e aventuras. Entretanto, a infância ainda sobrevive, num processo semelhante aquela estória de que o mundo da fantasia somente existirá enquanto as crianças nele acreditarem. Godá ressuscita a infância constantemente através de suas obras de arte. Aprendeu a valorizar e a resgatar os frutos da sua vivência, pois, declarou que a essência do seu trabalho é a memória. O c...

ASPECTOS HISTÓRICOS FERREIRENSES A herança de João Ignacio Ferreira, o balseiro. – Parte 1

João Inácio Ferreira, o balseiro outrora responsável pela travessia sobre o rio Moji Guaçu, tornou-se uma referência local e, por meio do seu nome, este local, que pertencia a Descalvado, ficou conhecido regionalmente. Esta história é conhecida pelos ferreirenses e foi eternizada pelas brilhantes palavras do professor Flávio da Silva Oliveira, que empreendeu uma busca pelos documentos que comprovassem nossas características gerais. Considerando tais colocações, o Museu Histórico e Pedagógico de Porto Ferreira, que justamente carrega o nome do professor Flávio, torna-se uma instituição depositária do nosso passado, pois nele estão contidos o acervo documental e material vinculado ao município de Porto Ferreira. Uma das preciosidades que lá se encontram é o “Inventário de João Ignácio Ferreira”. Graças ao trabalho do professor Flávio, este compêndio de cópias de documentos cartoriais, que totalizam 126 páginas, de 1877 a 1888, chegou até nós. Com uma linguagem rebuscada par...