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Assis Chateaubriand - O Rei Do Algodão Em Porto Ferreira

Posto de Puericultura construído em 1950
1950 – UM ANO AUSPICIOSO
Em julho de 1950, o Jornal "O Ferreirense" trouxe uma gigantesca reportagem para suas páginas escrita por Assis Chateabriand. Com o título de "Segura o teu homem", tratava-se da cópia de um artigo publicado no Diário de São Paulo, em 13 de julho de 1950. O artigo relatava uma homenagem que Horácio Lafer e o Dr. Erlindo Salzano receberam pelos serviços prestados ao município de Porto Ferreira, para a qual Assis Chateaubriand também fora convidado. Horácio Lafer era Deputado Federal eleito em 1945 e Salzano ocupava cargo em comissão no governo de Adhemar de Barros. Ambos estavam em campanha política. Em outubro daquele ano, Lafer ficaria com a suplência, na tentativa de reeleição, e o ferreirense Dr. Erlindo Salzano, seria eleito para o cargo de Vice-Governador do Estado de São Paulo.
Chateaubriand se aproveitou da ocasião para escrever o artigo e, obviamente, trazer luz sobre suas relevantes ações nas terras do balseiro. Assim, ele iniciou o texto falando sobre uma comissão de médicos locais que solicitaram ajuda para o fazendeiro paraibano, o qual há 5 anos possuía a fazenda Rio Corrente. No conjunto da homenagem estava a inauguração do Posto de Puericultura, que "em nome de tio Candinho Fontoura, pela Campanha Pró Monumento Monteiro Lobato", Chatô ofereceu ao município de Porto Ferreira[1], para combater a mortalidade infantil. Segundo dados do IBGE, a região Sudeste, em 1950 possuía uma mortalidade infantil de 122 para cada mil habitantes; em 2010 essa taxa estava em 16,6 por mil[2].
Seguidamente, o artigo do jornal "O Ferreirense" se desenvolveu sobre a Fazenda Rio Corrente (zona Norte de Porto Ferreira). Esta gleba, com 418 alqueires, recebeu o "Plano de Recuperação do Solo Paulista"[3], tendo, em 1950, colhido 6.600 arrobas de algodão, tirando uma média de 200 arrobas por alqueire, que correspondia a "3 vezes a media da terra bandeirante " (provavelmente o Estado de São Paulo).
O MILAGRE AGRÍCOLA DO REI DO ALGODÃO FERREIRENSE
Chateaubriand enfrentou inúmeras pragas agrícolas que devastavam o algodoal: curuquerê, lagarta rosada e o pulgão. Segundo ele, a colheita no Estado de São Paulo seria catastrófica naquele ano: dos 350 milhões de algodão em pluma colhidos no passado, não colheriam nem 150 milhões com a média de 50 arrobas por alqueire. Os americanos tinham a média de 160 a 180 arrobas por alqueire. Portanto, a Fazenda Rio Corrente estava acima dos EUA em produtividade. Qual era o segredo?
De acordo com Chatô, o Rei do Algodão ferreirense, era necessário praticar a rotina inglesa aplicada no Sudão[4] (nordeste da África) e a americana, do "Middle
West" e do sul dos EUA. Para tanto, a ação conjunta dos meeiros e colonos combinada com a utilização de fertilizantes e defensivos agrícolas, somados a um maquinário tecnológico de ponta (tratores Fiat, arados de 5 discos e destocador mecânico) permitiram o milagre agrícola do algodão na Fazenda Rio Corrente.
Pode parecer estranho relatar praticamente o óbvio do que é realizado atualmente na rotina do agronegócio. Entretanto, em 1960, apenas 30% das áreas cultivadas no Brasil usavam adubação com a média de 18 quilos por hectare.
(continua na próxima edição)
Colonos da Fazenda Rio Corrente, 1951

[1] Campanha Pró Monumento de Monteiro Lobato - parece que a campanha realizada por Chateaubriand, com vários financiadores (Klabin, Lafer) inaugurou postos de puericultura em várias cidades, como, por exemplo, em Fartura-SP, no ano de 1951. Trata-se de um assunto a ser pesquisado.
[2] Pesquisado em: (https://brasilescola.uol.com.br/brasil/mortalidade-infantil-no-brasil.htm).
[3] Plano de Recuperação do Solo Paulista – este termo merece ser pesquisado a fim de elucidar se realmente havia uma campanha na época ou se tratava apenas de mais uma das idéias da cabeça de Chatô.
[4] Sudão – submetido ao domínio egipício-britânico até 1953, obtendo independência total em 1956.

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