A década de 1950
marcou profundamente a história de Porto Ferreira. A cidade sofreu um rápido
desenvolvimento, concentrando-se muitos investimentos em infra-estrutura,
amparados pelas ações do Governo do Estado de São Paulo, em virtude do
intermédio do ferreirense, Dr. Erlindo Salzano, Vice-Governador do Estado
(1951-1954).
Certamente, a
obra mais relevante do período, para o futuro do município, foi a construção da
estrada asfaltada “São Paulo-Igarapava”, conhecida como “Via Anhanguera”. Esta
rodovia diminuiu drasticamente o tempo de deslocamento dos produtos e das
pessoas entre Ribeirão Preto e São Paulo - um dos principais eixos econômicos
do Brasil.
Contudo, existiu
uma polêmica envolvendo a construção da estrada asfaltada. Relatos orais
coletados em Porto Ferreira indicaram que Erlindo Salzano influenciou a mudança
do traçado original da rodovia, para atender as demandas ferreirenses, fato que
descontentou a vizinha Descalvado, local onde, supostamente, passaria a Via
Anhanguera. Este artigo busca esclarecer os detalhes desta controvérsia, bem
como analisar o contexto histórico do período em voga.
O Histórico da Rodovia Anhanguera
A estrada velha
de “São Paulo – Campinas”, precedente da Via Anhanguera, começou a ser
construída em 1916, utilizando-se de 84 prisioneiros como mão de obra, os quais
concluíram 32 quilômetros do projeto. A conclusão do trecho ocorreu somente em
1921, em razão dos incentivos de Washington Luís, presidente do Estado de São
Paulo, que contratou trabalhadores assalariados para substituir os
presidiários.
Segundo
reportagem do jornal impresso “O Estado de São Paulo”, de 17 de junho de 1949,
em meados de 1934, no governo de Armando Salles Oliveira, engenheiros do
Departamento de Estradas de Rodagem, fizeram um estudo de um novo traçado para
a rodovia entre São Paulo e Jundiaí, inteiramente pavimentada, sem cruzamentos
com a estrada de ferro da S. Paulo Railway. Todavia, a concorrência aberta para
a conclusão da obra não se efetivou na prática.
Tempos depois, Adhemar
de Barros, então interventor Federal no Estado, retomou os trabalhos e
inaugurou a estrada, ainda inexistente, com assinatura do decreto estadual
nº11089 15 de maio de 1940, o qual destinava um crédito de 4.000 contos de réis
para a construção da auto-estrada denominada “ Via Anhanguera”. No aludido
artigo, Adhemar de Barros foi acusado de “ser mestre em inaugurar coisas
inexistentes ou reinaugurar o que foi feito por outros”.
No ano de 1941, Adhemar
foi destituído do cargo de Interventor, acusado de corrupção, porém, em 1946,
conseguiu provar sua inocência perante o Tribunal de Contas do Estado de São
Paulo. Tornou-se o principal líder do Partido Social Progressista (PSP), maior
partido político de São Paulo entre 1946 e 1965, ao qual o Dr. Erlindo Salzano
pertencia. Adhemar elegeu-se governador do Estado de São Paulo para o mandato
de 1947-1951, retomando o projeto de construção e pavimentação de estradas, sob
o lema “São Paulo não pode parar”.
Nas eleições
seguintes para Governador do Estado, Adhemar apoiou, respectivamente, Lucas
Nogueira Garcez e o Dr. Erlindo Salzano, para Vice-Governador, obtendo pleno
êxito com seus sucessores, pois ambos, em eleições separadas, foram eleitos. Posteriormente,
Lucas N. Garcez rompeu com Adhemar de Barros, ao não favorecê-lo nas eleições
de 1954 para o Governo do Estado.
Portanto, a Via
Anhanguera foi uma obra de muitos governos e muitos donos, e como tal,
tornou-se um elemento estratégico para viabilizar o desenvolvimento econômico
do nordeste do Estado de São Paulo, bem como um símbolo do progresso e da
propaganda política.
Reflexos da política estadual em Porto Ferreira
Nas décadas de
40 e 50, o Brasil foi tomado pela ideologia do “desenvolvimentismo”, na qual o
Estado assumia o planejamento econômico, passando a intervir diretamente na
economia. Segundo Guido Mantega, existia um “conjunto heterogêneo de forças
sociais favoráveis à industrialização”, que acreditava na capacidade do Estado
de proporcionar o desenvolvimento econômico brasileiro, inibindo as
contradições do capitalismo: superprodução, desemprego, oscilações de mercado,
queda das taxas de lucro.
Em virtude do
rápido processo de urbanização e crescimento das indústrias, inevitavelmente,
ocorreria um aumento por parte do governo nos investimentos em infra-estrutura,
tanto no planejamento quanto na execução das obras. Ademais, de acordo com
Marly Rodrigues, o processo de industrialização se intensificou depois da 2ª
Guerra Mundial (1939-1945), pois o Brasil passou a receber investimentos
diretos do exterior, favorecendo o surgimento do “populismo”.
Porto Ferreira,
portanto, absorveu a realidade nacional, graças ao Dr. Erlindo Salzano,
auxiliado pela gestão dos prefeitos municipais Manoel da Silva Oliveira
(1948-1951), Paschoal Salzano (1952-1955), e Oswaldo Cunha (1956-1959) - vice-prefeito
da gestão anterior, pertencentes ao mesmo grupo político.
Com o fim de dar dimensão às
ações do Vice-Governador, sem aprofundar o assunto, no jornal “O Ferreirense”,
de 14 de setembro de 1952, no artigo “Porto Ferreira e Dr. Erlindo”, está
escrito:
“a nova caixa d’água, no alto da cidade, com
seus enormes canos, o aeroporto, a cidade nova, as fábricas, as avenidas, os
aterros, a estrada asfaltada, o Jardim Primavera, a piscina, a Escola
Profissional, enfim, tudo o que de novo e belo existe em nossa terra, é lembrar
do Dr. Erlindo”.
Foram muitas as obras ocorridas
em Porto Ferreira num curto período de tempo. Erlindo Salzano foi habilidoso
político “populista”, conseguindo se tornar o símbolo do progresso ao “auxiliar
pobres e ricos, amigos e inimigos, criando o otimismo local”.
Pode-se concluir, por meio de
inúmeras reportagens jornalísticas, que a imprensa local da época colocou a
imagem do Vice-Governador acima de qualquer crítica. Inquestionável, também,
foi o crescimento econômico de Porto Ferreira, durante o mandato do Dr. Erlindo
Salzano e dos prefeitos citados acima.
Contudo, os detalhes sobre as obras da Via Anhanguera e a polêmica
mudança do seu traçado original, que permitiu a industrialização e urbanização
maciça da cidade, serão especificados na próxima semana.
Inauguração da Praça Paschoal Salzano 1953
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