Sebastião Bento da Fonseca 2013
“Sete
de setembro,
berço
da minha existência;
pátria
querida e formosa.
Essa
data gloriosa ,
célebre
da independência,
permita-me
a inocência
nessa
infância descuidosa,
para
saudar-te orgulhosa,
com
alma e com reverência.
Dom
Pedro I com grito,
na
memória traz escrito
e cravado no coração.
Tirasse
da frente a coroa,
ao
ver o pássaro que voa,
livre
amado torrão”.
Com
a alegria estampada na face, Sebastião Bento da Fonseca, 83 anos, recitou orgulhosamente
estes versos por ele nunca lidos, mas que ficaram guardados na sua memória,
após, na tenra juventude, há mais de 70 anos, seu irmão, Aparecido B. Fonseca,
tê-los recitado.
Sebastião
Bento da Fonseca, ou Tião, como os amigos próximos lhe chamam, nasceu em 25 de
dezembro de 1928, no sítio da Boa Vista, em Porto Ferreira. Filho
de João Bento da Fonseca e de Sônia Fonseca de Jesus, teve muitos irmãos:
Artur, Osório, Aparecido, João, Olínea, Hortênsia, Maria, Dalvalínea e
Eufrozina; todos eles nascidos no sítio Boa Vista. O restante da família vivia
em Campinas, entretanto, eram provenientes de Silvianópolis, que, antigamente
se chamava Santana do Sapucaí (MG). Seus pais eram primos.
O
sítio de seu pai possuía 26 alqueires, onde se cultivava arroz, feijão, batata,
milho, entre outras culturas. Contudo, não produziam café e laranja. Tomado
pelas gargalhadas, Tião Bento relembra que a produção excedente seguia para a
cidade, todavia não sobrava muito, porque “a família era grande e o gado era
pouco”. Na vizinhança havia o sítio do Sebastião Virgílio de Carvalho,
denominado “Barro Preto”, e o “Sítio Viradouro”, da família Calixto, cuja
extensão não atingia a margem do Rio Moji Guaçu.
A
mãe do Tião contava pra ele que o seu pai não gostava de chupeta. Então, um dia
ele levou o garoto no curral e disse: - Filho, escolhe uma vaca. Se você parar
de chupar chupeta, eu dou ela pra você. “Ah, na hora eu peguei a chupeta e
joguei fora”, relembra Tião. Escolheu uma vaca chamada “Amazona” e seu pai
prontamente honrou a palavra. Porém, Dona Sofia ficou com medo que o menino
ficasse doente e lhe dava novamente a chupeta. Entretanto, Tiãozinho, com 3
anos, cuspia fora o objeto. Sempre tive opinião, conclui Sebastião, “se eu
gosto, gosto, se não gosto, não gosto”. Infelizmente, Seu João Bento da Fonseca
faleceu com 55 anos, quando ele tinha 3 anos e 8 meses.
O
amigo de infância foi o Antonio Araújo, filho do Juca do sobrado, pois era o
vizinho mais perto. Tinha, também, a família Tofóli. As pessoas até sua casa para Dona Sônia
aplicar injeção e levavam os filhos, resultando em companhia para brincadeiras.
Cursou
os 4 anos do “Grupo Escolar de Porto Ferreira”. Tião Bento e o irmão corriam os
3 quilômetros
que separavam a instituição de ensino do sítio da família, retratando a
vitalidade e a pureza da infância, onde as obrigações cotidianas são
transformadas em
aventura.. Contudo , ao repetir o 4º ano do grupo escolar, o
caminho passou a ser feito sem a companhia do irmão. No sítio Viradouro existia
uma escola, porém, a distância ficava maior para Tião e, também, não tinha o 4º
ano.
É
impossível esquecer os nomes das professoras: Nadir Ribaldo, Guiomar Ribaldo, Jandira
Fortes Denunci e Olímpia Teixeira, que, certa vez, deu um corretivo no
Tiãozinho. Segundo ele, o Sebastião Guardiano falou uma coisa muito engraçada,
fazendo-o “morrer de rir”. De repente, veio o tabefe da professora no meio da
orelha, acabando com a graça. Naquele tempo as salas de aula já eram mistas e
os colegas de classe permanecem na memória: Toninho Alves, Sebastião Guardiano,
Doutor Neif, Quito Gentil, Tota, Marbassi, Luci Loureiro, Dora Ribaldo, Inea
Perondi. A servente tinha o nome de Adelina Parolo. Tião gostava de ajudar na
horta do grupo escolar, rançando os matinhos e plantando as verduras,
consumidas na própria escola. Quando a aula não era muito importante, a
professora deixava ele “dar uma escapadinha”. O João Teixeira ocupava o cargo
de Diretor, mantendo o respeito.
Aos
18 anos, seguindo o conselho de um grande amigo, Otacílio Pereira, Tião prestou
concurso para a Cia. Paulista, sendo aprovado para o cargo de limpador de trem.
Com um pano nas mãos, esfregava com capricho a “brassagem” da locomotiva –
parte composta pelos eixos e rodas – deixando-a reluzindo ao receber os raios
solares da manhã. Iniciou sua carreira na cidade de Campinas e, depois, não
parou mais: Porto Ferreira, Bauru, no cargo de foguista de manobra, e Marília.
Cada promoção gerava uma remoção. Quando chegou a Marília, tinha um foguista de
lá em Porto Ferreira.
“Naquela época tinha muita locomotiva à vapor e a gente tinha que manter vapor
ao alimentar a fornalha com lenha, que levava o trem para 80 km/h . Depois vieram as
locomotivas à óleo e à diesel e a velocidade do trem alcançou os 95 km/h ”, na década de 70,
relembra o ferroviário.
Através
de uma permuta, Tião voltou Porto Ferreira. Trabalhou aqui um bom tempo em
companhia do Maneco Batista, pai do Dr. Batista. Posteriormente, foi promovido,
voltando para Campinas e, em seguida, Pirassununga, Cordeirópolis e, novamente
Campinas, como maquinista. Por último, foi deslocado para Araraquara, onde
fazia o trecho Araraquara - São José do Rio Preto. Em Araraquara, contraiu a aposentadoria.
Foram exatos trinta anos e vinte e um dias até a aposentadoria. O salário nunca
atrasou.
Porém,
também existia espaço para a família. Sebastião Bento teve 3 filhos com a
primeira mulher: o Bentinho, o Aparecido e a Rose Maria. Encontra-se há mais de
46 anos na companhia de Dona Orlanda Ostroski. “Minha mulher chegou de mudança
de Cordeirópolis. Estava descarregando a mudança sozinha na casa do lado, onde
o “Ninão” (Dorivaldo Américo da Silva) morava. E eu falei: - Cê qué uma
mãozinha aí? Ela falou: - Pode ser. Eu disse: - Seu marido não vai achar ruim? E
ela retrucou: - Não tenho marido. E a sua mulher, não vai achar ruim? Então
respondi: - Eu também não tenho mulher. Então deu!”, concluiu Tião, imbuído de
gargalhadas. E nunca mais se separaram.
Dona
Orlanda também tinha 2 filhos. Juntos, o casal gerou mais 2 filhos: o Émerson e
o Marcos. Ambos deixavam tudo de lado por causa das crianças. Tião ficava 8
dias fora por causa do trabalho e Dona Orlanda cuidava da casa e dos filhos.Quando
ele chegava em casa, estava morrendo de
saudades de todos. Os filhos eram a coisa mais importante para ele. Comprava
doce e guaraná quente mesmo, porque não tinha geladeira.
O
tempo passou, os filhos cresceram e o maquinista aposentado ainda caminha pelas
ruas de nossa cidade. Esta semana, tive a honra de recebê-lo no museu para contar
suas histórias e apreciar uma exposição que relembra a trajetória do trem em Porto Ferreira.
Toda
vez que eu passar no caminho da “estrada velha” de Pirassununga, garanto a
vocês, amigos ferreirenses, vou lembrar daquele menino correndo no meio da
poeira para viver a vida e, um dia, conduzir o “trem da Paulista”. Acima de
tudo, aquele menino é gente nossa, que lutou para criar sua família e
reverenciar o tempo.
Sebastião Bento da Fonseca e Batista 1951
Renan Arnoni - historiador
Saudades meu querido pai esteja com muita luz. Sua filha Rosa Maria.
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