por Renan Arnoni (historiador)
O Algodão no Brasil
Entre os séculos XVI e XVII, as primeiras plantações
do algodão arbóreo foram introduzidas no “Nordeste Açucareiro”, como
matéria-prima de fiações e tecelagens para a produção de um “pano mais
grosseiro” para a vestimenta dos escravos. Com a introdução de novas variedades
da planta, em meados do século XVIII até 1830, grandes unidades produtivas
escravistas cultivaram a cotonicultura no Maranhão. A competição direta com o
mercado norte-americano e a elevação do preço dos escravos causaram o declínio
da cotonicultura escravista.
A Guerra de Secessão dos EUA (1861-65) produziu a
oportunidade para o aumento de investimentos ingleses no território brasileiro,
criando um segundo ciclo produtivo da cotonicultura ao inseri-la no Estado de
São Paulo. Embora os norte-americanos tenham novamente recuperado o mercado
internacional após o fim da guerra, a demanda interna gerada pelo café no
Sudeste sustentou a produção algodoeira e, no final do século XIX, a indústria
têxtil respondia por 60% do capital aplicado no setor industrial do Brasil.
O Algodão em São Paulo
Segundo Barjas Negri, o número de estabelecimentos da
Indústria de Transformação (bens de consumo não duráveis, bens intermediários e
bens de capital e de consumo duráveis) da 1ª República em São Paulo foi: 1907 –
327 unidades, 1919 – 4.112 unidades e 1928 com 9.603 empresas. O censo de 1919
demonstrou que a indústria têxtil, com 217 estabelecimentos, empregava 33.665
operários (42% do total). Em 1928, dos 9.603 estabelecimentos 508 pertenciam ao
setor têxtil, empregando 67.673 funcionários (42,62% do total).
Portanto, a indústria têxtil no Estado de São Paulo se
constituiu entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, com
uma quantidade significativa de empresas, porém, com quase a metade do pessoal
ocupado da Indústria de Transformação. Neste período, 65% dos estabelecimentos
industriais se concentravam na Grande São Paulo e 35% no interior do Estado. Entretanto,
metade do algodão produzido era de baixa qualidade, com fibras curtas, podendo
ser usado apenas para a produção de tecidos rústicos.
A década de 30 apresentou uma ruptura com o padrão
produtivo anterior. Com a crise no setor cafeeiro, ocorreu um retalhamento das
grandes propriedades agrícolas em pequenas unidades territoriais, as quais
permitiram ao pequeno proprietário, com financiamentos bancários, investir em
outras culturas, sendo o algodão a mais importante para os novos proprietários.
No ano de 1938-39 a
área cultivada de algodão no Estado de São Paulo foi de 372. 878 alqueires
Iniciaram-se trabalhos de pesquisas governamentais,
seleção de sementes e empregos de fertilizantes, melhorando a qualidade da
produção. Entre 1940 e 1965 o algodão herbáceo do Brasil Meridional
(centro-sul) superou definitivamente, em quantidade, a produtividade do algodão
arbóreo do Brasil Setentrional (Norte e Nordeste).
O algodão em Porto Ferreira
No ano de 1934, em Porto Ferreira , Agostinho
Prada e Perondi Igínio fundaram a Cia. Algodoeira Perondi Ltda., localizada na
atual Avenida Engenheiro Nicolau de Vergueiro Forjaz (antiga Avenida 24 de
Outubro). O prédio, embora utilizado para outras finalidades, ainda mantém as
características originais externas peculiares da indústria têxtil do período
(parede de tijolos à vista cobertura de telhas francesas). No local, era
realizado o beneficiamento do algodão (retirada das fibras e do óleo das
sementes).
Em 1947, Perondi fundou a Fiação Amélia, empresa que
transformava as fibras do algodão em rolos de fios. Como item de curiosidade,
em 1937 havia 780 estabelecimentos têxteis no Estado de São Paulo, empregando
87.401 operários (34,5% do total).
Desta forma, é possível deduzir que
havia uma produção local, em
Porto Ferreira , e regional de algodão, utilizado como
matéria-prima para esta indústria[1].
O algodão na Fazenda Rio Corrente em Porto Ferreira
O milagre do algodão na Fazenda Rio
Corrente (retratado em artigo na semana passada neste jornal) foi estampado na
revista “O Cruzeiro”, edição 31, de 19 de maio de 1951, com o título “O algodão
ressurge em São Paulo ”.
No artigo, foi destacado o rápido
esgotamento do solo paulista pela cultura do algodão que, de 300 a 400 arrobas por
alqueire de algodão de pluma em rama, passou a produzir apenas 80 arrobas.
Naquele ano, 1951, a
fazenda Rio Corrente, do “Rei do algodão ferreirense”, Assis Chateaubriand,
apresentou 450 arrobas por alqueire e o sucesso se encontrava nas doses
científicas de hiperfosfato marroquino, da Companhia Brasileira de Adubos.
Obviamente, diante do sucesso
produtivo agrícola, o vaidoso “Cidadão Kane brasileiro” mobilizou uma comitiva
para visitar a sua fazenda, com as mais ilustres autoridades do setor agrícola
(cerca de 30 nomes), dentre os quais se destacavam João Cleofas (Ministro da
Agriucltura), Oliveira Costa (Secretário da Agricultura Paulista), Geremia Lunardelli
(rei do café), Basileu da Costa Gomes (Diretor da Cia. Brasileira de Adubos), Hélio
Pecci (Diretor da Fiat), Moreira Sales, José Maria Whitaker, Brigadeiro Armando
Araribóia e inúmeros agrônomos.
Jose Maria Whitaker, Governador Dix Sept Rosado e Sra Maria Guedes Penteado colhendo algodão na Rio Corrente |
Ao serem analisados os dados históricos da
cotonicultura no Estado de São Paulo, torna-se perceptível que a Fazenda Rio
Corrente estava inserida neste processo ao cultivar o algodão herbáceo em conjunto
com a adubação do solo, implementos agrícolas e o controle de pragas com a
aplicação de inseticidas, gerando alta produtividade por alqueire, superando a
média dos Estados Unidos da América que, nos séculos XVIII, XIX e início do
século XX foram os principais responsáveis pela crise no setor da cotonicultura
brasileira.
[1] Estes dados podem ser
mensurados em estudos aprofundados ao consultar o livro de impostos sobre a
produção agrícola de Porto Ferreira no período.
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