Dr. Otto Bayer mostra ao embaixador Assis as estufas onde são cultivados os produtos tropicais e as plantas que as atacam |
Os livros e os jornais propagam a imagem do Brasil
como um país de economia agroexportadora dentro de um processo de “capitalismo
tardio”. De fato, em termos gerais, o Brasil passou pelo ciclo da cana de
açúcar no Nordeste, entre os séculos XVI e XVII, e o ciclo do ouro,
principalmente em Minas
Gerais , no século XVIII. Ambos os produtos, guardadas as
particularidades de cada caso, eram enviados para o mercado externo e utilizavam
a mão-de-obra escrava. No primeiro caso, o cultivo ocorria em latifúndios e, no
segundo, realizava-se exploração das lavras. Vale salientar que existiam
economias secundárias, como a produção de mulas (meio de transporte do período)
e a do charque (carne de sol para consumo).
Com o desenvolvimento do ciclo do café no Sudeste, em
meados do século XIX, a situação começou a mudar. No final do século XIX, com a
abolição da escravatura e a introdução do trabalho assalariado com a
mão-de-obra dos imigrantes, foi criado, efetivamente, um mercado interno
consumidor, possibilitando o desenvolvimento industrial para atender uma demanda
interna.
Assim, no início do século XX surgiram moinhos,
fábricas de tecidos, de tijolos, frigoríficos, cerâmicas, entre outros, dando o
início ao processo de industrialização brasileiro, chamado de “industrialização
tardia”, pois, estava 200 anos atrasados em relação à Europa e aos Estados
Unidos, que dominavam o mercado exportador. Na década de 30, este processo
industrializante se intensificou com a intervenção do Estado na economia, sob o
governo de Getúlio Vargas, criando empresas estatais, sindicatos, legislação
trabalhista e favorecendo o desenvolvimento de setores da economia pouco
explorados. Na década de 30, 60% do produto interno bruto (PIB) era gerado pela
agricultura e 80% da população vivia no campo e do campo.
Em 2018,
a agricultura correspondeu a cerca de 20% do PIB
brasileiro e apenas 15% da população ainda mora no campo, demonstrando o
aumento da importância da produção industrial para o Brasil e a provável
mecanização da área rural.
A
AGRICULTURA BRASILEIRA A PARTIR DA DÉCADA DE 60
Segundo dados da ANDA (Associação
Nacional para Difusão de Adubos) em 1960 apenas 30% das áreas cultivadas usavam
adubação com uma média de 18 quilos por hectare. Embora o Brasil estivesse
passando por um processo de industrialização tardio, a agricultura era
ineficiente, cultivando muitos alqueires com baixa produtividade. Era preciso
convencer os agricultores do custo-benefício dos fertilizantes.
Assim, 14 empresas se juntaram em
1967 para criar e sustentar financeiramente a Associação Nacional de Adubos
(ANDA). Em 1969 foram instalados 500 campos de demonstrações de resultados dos
adubos em lavouras de milho, arroz, feijão e algodão no sul de Goiás e Minas
Gerais.
Em parceria com a FAO (Organizações
Unidas para a Agricultura e Alimentação), no ano de 1975 a ANDA possuía 3 mil
ensaios e campos de demonstração pelo país. Paralelamente, o Governo Federal
instituiu políticas públicas para aumentar a produtividade, com investimentos
públicos em pesquisa e oferta de crédito rural.
A
“SEMENTE PRETA” NA FAZENDA RIO CORRENTE
Em 1958, Assis Chateaubriand foi
nomeado embaixador do Brasil em Londres, durante o Governo de Juscelino
Kubitschek. Em junho daquele ano, em missão oficial, Chatô visitou a
multinacional Bayer, em Leverkusen na Alemanha, em busca de inovações químicas
para a proteção do algodoeiro. Na prática, o inseticida “Metasystox” só
protegia o arbusto depois que ele entrava na fase de desenvolvimento. Buscava-se
um produto que protegesse a semente, garantido um ciclo produtivo mais
eficiente.
Foi apresentado pelos representantes
da Bayer ao Disyston, espécie de pó preto que envolvia a semente do algodão sem
danificá-la, imunizando o algodoeiro desde as raízes por um período de 70 dias,
combatendo a “broca” e o “pulgão”.
Chateaubriand, o rei do algodão de
Porto Ferreira, experimentou a semente preta na Fazenda Rio Corrente. A
produtividade foi de 420 arrobas do algodão em pluma, do tipo 4, por dois
hectares e meio, 168 arrobas por hectare, média superior a dos Estados Unidos
da América, onde os métodos de cultura e defesa da praga são os mais adiantados
do mundo.
Assim, ficou evidente que esforços
particulares para melhorar a produtividade da agricultura brasileira foram
aplicados na Fazenda Rio Corrente concomitante as ações do governo brasileiro
que ocorreram no mesmo período, transformando a economia agroexportadora
nacional no celeiro do mundo.
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